Num momento em que o Brasil está afastado do debate global sobre mudança do clima, com alta no índice de desmatamento e uma lacuna no desenvolvimento de políticas ambientais, um grupo de múltiplos setores se uniu para lançar a Aliança pela Ação Climática – Brasil (ACA-BR). O grupo de líderes empresariais, investidores, autoridades locais e estaduais, academia, imprensa, entidades religiosas, federações indígenas, organizações da sociedade civil e jovens se une em torno do desejo de retomar o papel de protagonismo global do País em ações de redução de emissões e de adaptação à mudança do clima.
O grupo surge a partir do reconhecimento de que o Brasil precisa da voz coletiva e fortalecida de todas as instituições comprometidas para trazer a ação climática para o centro do debate público. O objetivo da aliança é complementar o ecossistema existente de ação climática no Brasil, reunindo esses atores para inspirar ações mais ousadas por meio da colaboração; engajar o público brasileiro em torno da urgência e dos benefícios da ação climática embasada em análises sólidas; e apoiar as condições políticas para acelerar a transição do Brasil para uma sociedade resiliente para o benefício de todos os brasileiros e todas as brasileiras e de todo o mundo, em consonância com o Acordo de Paris.
A ACA no Brasil faz parte de um movimento global que congrega alianças de outros países, como o We Are Still In, dos Estados Unidos, e alianças do México, Argentina, África do Sul, Japão e Vietnã.
“O lançamento da ACA Brasil representa uma oportunidade que vai além das fronteiras do país. Estamos vivendo um ano crucial para a ação climática, onde a colaboração entre diferentes atores se tornará cada vez mais relevante para a implementação do Acordo de Paris. A coordenação de diversos atores da sociedade civil, governos subnacionais, empresas, academia e o setor financeiro é o melhor exemplo de que somos capazes de resolver as crises atuais, e este exercício precisa ser replicado em todos os países e regiões”, declarou Gonzalo Muñoz, Campeão de Alto Nível da COP25, durante o evento de lançamento da aliança, que ocorreu no dia 28 de janeiro de 2021, ainda respirando os ares do aniversário de cinco anos do Acordo de Paris. “As ACAs representam uma maneira muito eficaz de conectar a ação climática local com a comunidade climática global. Esperamos que esta iniciativa sirva para tornar o trabalho que já está sendo feito no Brasil conhecido no mundo todo e que traga ao Brasil as melhores práticas do que está funcionando em outras regiões”, completou.
Daniela Lerário, Líder Brasil da equipe de Campeões do Clima das COP-25 e COP 26, que moderou o evento, reconheceu a conexão entre a ação climática e o momento desafiador vivido por todo o mundo por conta da pandemia da COVID-19: “A corrida rumo a zero emissões precisa estar conectada com o impacto da pandemia e a luta contra a desigualdade. A barra para a ação climática local subiu, e nos últimos meses tem crescido a mobilização para o compromisso de emissão neutra de carbono até 2050. O Brasil sempre foi reconhecido mundialmente como liderança na mudança do clima, está na hora de nos unirmos pelo protagonismo brasileiro na ação climática”.
“Uma aliança é extremamente oportuna, pois cada um dos atores tem um papel fundamental nessa agenda”, declarou Suzana Kahn, Diretora Adjunta da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). O Brasil é o sexto maior emissor dos gases causadores do efeito estufa e já sofre diretamente os impactos das mudanças climáticas. Nosso país enfrenta problemas como a escassez de água, incêndios e inundações cada vez mais frequentes e intensos e com impactos diretos na saúde humana, na produção de energia e na produtividade agrícola.
“Nós, governadores, temos muito o que apresentar e fazer nesse tema global, que exige uma ação de articulação muito forte e deveria ser liderada pelos governos centrais. Alianças climáticas surgem pela negação e ausência de líderes importantes do mundo. Temos que ter a ação dos estados e municípios em conjunto com a sociedade brasileira para que alcancemos a meta do Acordo de Paris. Só uma articulação como essa permitirá que trabalhemos e incentivamos outros estados a terem seus programas de mudança climática”,afirmou Renato Casagrande, governador do estado de Espírito Santo.
“Fico feliz em fazer parte dessa Aliança porque as cidades serão o lugar mais importante para a implementação prática [das ações climáticas]”, disse Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju, Sergipe.
Representando o setor privado, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho da Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, destacou a responsabilidade do varejo como emissor de GEE e declarou que, até o final do ano, a rede terá 500 lojas com 100% de energia solar. “Temos que estar todos unidos, num só objetivo, de salvar a humanidade.”
“É um privilégio participar da ACA Brasil e, com todos os dados que vamos colher nesta parceria, poderemos ser mais eficazes e semear maior consciência, para que o ser humano perceba que cuidar do próximo é cuidar de mim, é cuidar do planeta”, disse o pastor Ariovaldo Ramos, da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.
Lideranças jovens também fazem parte da ACA Brasil, já que são responsáveis pelas ações agora e no futuro visando um crescimento em sintonia com o meio ambiente e a justiça social. O evento de lançamento da Aliança foi encerrado com um vídeo reunindo depoimentos de representantes das juventudes de todo o Brasil e com a leitura dos atuais signatários.
O evento de lançamento da ACA Brasil foi transmitido ao vivo e encontra-se disponível no YouTube da ACA Brasil.